Sexta-feira, 21 de Maio de 2010

crônica do zé

 

 

 

Uma crônica do Zé

 

 

De perto,

ninguém é normal

 

Quem nunca se surpreendeu falando sozinho?

Vinha para o jornal no meu possante Fiat 96 quando me dei conta de que conversava alto comigo mesmo. Estava preso num engarrafamento chato entre o Guará e o SIA, ­ esse estresse virou rotina, pelo menos uma vez por semana um motoboy, que se acha Valentino Rossi, bate na traseira de algum carro e a pista vira um caos. Sei que não sou o primeiro, nem serei o último aprendiz de cronista a tocar nesse assunto de "dialogar" sozinho, mas achei engraçado o Zé falando com o Zé. É como diz o poeta: "De perto, ninguém é normal".

Comecei a olhar para os outros motoristas, impacientes como eu, parados no trânsito. Uns aumentavam o som do rádio, outros conversavam com a companhia do lado, e alguns repetiam o mesmo vício "discreto" de falar sozinho. A gata do Gol vermelho à minha direita até gesticulava. Uma comédia urbana.

Às vezes, quando bebo uns chopes a mais no Carpe Diem ou no Beirute, eu mesmo me repreendo em voz alta:  " Eh, véi. Tá na hora de voltar pra casa". Em outras ocasiões até brigo comigo, mas logo faço as pazes. Dizem que na Internet tem até chat para quem quer falar sozinho. É o computador tomando o lugar do espelho. Porque falar na frente do espelho é tão comum como cantar debaixo do chuveiro. Vai dizer, leitor ou leitora, que você nunca conversou tête-à-têt com sua imagem refletida no vidro de Narciso, o afogado. Fala sério.

Um antigo amigo escritor, ator e ex-astronauta de lotação lá de Planaltina, Donizeti Pitalurgh, gostava de dizer, durante uns goles de vodca, que falar sozinho é como escrever poesia sem papel.

Nesse início de ano é bom a gente exercitar umas rotinas novas para encarar os dias difíceis que virão. Eu aconselho a arte de conversar consigo mesmo. Não, não quero criar uma seita tipo raeliana (já pensou: os zelianistas) ou lançar um livro de auto-ajuda e entrar para a academia. Mas acredito que falar sozinho ajuda a anarquizar a alma. E isso é bom. É como tomar banho de chuva com a namorada em Pirenópolis. Beijar na boca dentro do carro em frente ao Palácio do Planalto...

O exagero não é recomendável. Nada de ficar falando com as paredes. Vão querer fazer uma lobotomia em você. E a lobotomia desses tempos é deixar a gente o dia inteiro diante da televisão assistindo novela mexicana, "vale a pena rever outra vez", vampiro banguela, etc.

Mas como é bom a gente ter alguém com quem conversar. Falar sozinho é um remédio sublime contra a solidão.

publicado por paulokauim às 05:37
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