sid vicious
para paulo kauim
quando sonho
é pesadelo que me vem de meus demônios
mais diários que os sonhos
mais noturnos que dois olhos de gato
cada demônio é um anjo
insone
querendo visitar alguém
principalmente nas horas amargas
de um sono mal tecido
ter cuidado é inútil
demônios não precisam de chaves
precisam de sofrimento
todo demônio sabe
o tempo que um punk tem
Donne Pitalurgh
CORREIO BRAZILIENSE - 18 de outubro de 2011
TANTAS
Palavras - POR JOSÉ CARLOS VIEIRA
.
Dei pra dedilhar um fado cego
na guitarra portuguesa do meu medo
e pelo Alentejo eu carrego
D'oliva da manhã, o gosto azedo.
O peito enferrujado feito prego.
Heterônimo de dor e azulejo.
Meu amor, eu te amo te renego
na pessoa lusitana do meu beijo.
Quanto mais mar houvera, mais navego
oceano proceloso, céus, rochedo,
buscador que sou de primavera.
Quanto menos El Rey espera, mais eu chego,
noite alta, madrugada, manhã cedo,
na nau catarineta da quimera.
.
sid vicious
para paulo kauim
quando sonho
é pesadelo que me vem de meus demônios
mais diários que os sonhos
mais noturnos que dois olhos de gato
cada demônio é um anjo
insone
querendo visitar alguém
principalmente nas horas amargas
de um sono mal tecido
ter cuidado é inútil
demônios não precisam de chaves
precisam de sofrimento
todo demônio sabe
o tempo que um punk tem
Donne Pitalurgh
CORREIO BRAZILIENSE - 18 de outubro de 2011
TANTAS
Palavras - POR JOSÉ CARLOS VIEIRA
.
De perto,
ninguém é normal
Quem nunca se surpreendeu falando sozinho?
Vinha para o jornal no meu possante Fiat 96 quando me dei conta de que conversava alto comigo mesmo. Estava preso num engarrafamento chato entre o Guará e o SIA, esse estresse virou rotina, pelo menos uma vez por semana um motoboy, que se acha Valentino Rossi, bate na traseira de algum carro e a pista vira um caos. Sei que não sou o primeiro, nem serei o último aprendiz de cronista a tocar nesse assunto de "dialogar" sozinho, mas achei engraçado o Zé falando com o Zé. É como diz o poeta: "De perto, ninguém é normal".
Comecei a olhar para os outros motoristas, impacientes como eu, parados no trânsito. Uns aumentavam o som do rádio, outros conversavam com a companhia do lado, e alguns repetiam o mesmo vício "discreto" de falar sozinho. A gata do Gol vermelho à minha direita até gesticulava. Uma comédia urbana.
Às vezes, quando bebo uns chopes a mais no Carpe Diem ou no Beirute, eu mesmo me repreendo em voz alta: " Eh, véi. Tá na hora de voltar pra casa". Em outras ocasiões até brigo comigo, mas logo faço as pazes. Dizem que na Internet tem até chat para quem quer falar sozinho. É o computador tomando o lugar do espelho. Porque falar na frente do espelho é tão comum como cantar debaixo do chuveiro. Vai dizer, leitor ou leitora, que você nunca conversou tête-à-têt com sua imagem refletida no vidro de Narciso, o afogado. Fala sério.
Um antigo amigo escritor, ator e ex-astronauta de lotação lá de Planaltina, Donizeti Pitalurgh, gostava de dizer, durante uns goles de vodca, que falar sozinho é como escrever poesia sem papel.
Nesse início de ano é bom a gente exercitar umas rotinas novas para encarar os dias difíceis que virão. Eu aconselho a arte de conversar consigo mesmo. Não, não quero criar uma seita tipo raeliana (já pensou: os zelianistas) ou lançar um livro de auto-ajuda e entrar para a academia. Mas acredito que falar sozinho ajuda a anarquizar a alma. E isso é bom. É como tomar banho de chuva com a namorada em Pirenópolis. Beijar na boca dentro do carro em frente ao Palácio do Planalto...
O exagero não é recomendável. Nada de ficar falando com as paredes. Vão querer fazer uma lobotomia em você. E a lobotomia desses tempos é deixar a gente o dia inteiro diante da televisão assistindo novela mexicana, "vale a pena rever outra vez", vampiro banguela, etc.
Mas como é bom a gente ter alguém com quem conversar. Falar sozinho é um remédio sublime contra a solidão.
FALANGE BEGE
Para Donne Pitalurgh
QUANDO VOCÊ ME ENCARA
COM ESSES OLHOS DE LOBO
MINHA ALMA COVARDE SE AGARRA
COM UNHAS E DENTES AO CORPO
QUANDO VOCÊ ME OLHA
COM OLHOS QUE TENS DE LOUCO
A MINHA BOCA ESCANCARA
COM CALMA LIBERO A ALMA
E O CORPO TREMENDO TODO.
DINA BRANDÃO
.
ca
be
ça
walter
franco
.
dia de estrelas
kléber albuquerque
elio camalle
A PAIXÃO É UM BARCO MORTAL
NUM TRIÂNGULO DE BERMUDAS.
A PAIXÃO TEM SUAS BERMUDAS
AJUSTADAS PARA QUAISQUER COXAS.
A PAIXÃO NÃO DEIXA MARCAS NOS SUSPENSÓRIOS
MAS MANCHA DE ROXO CALCINHAS E O CORAÇÃO.
O BARCA DA PAIXÃO, POR MORTAL QUE É
ESTÁ SEMPRE PRONTO A VIRAR,
MESMO O MAR ESTANDO CALMO.
A PAIXÃO É ROLETAR AS AMÍGDALAS
COM UM VELHO PUNHAL DE PLÁSTICO
QUE MEU AVÔ ME DEIXOU DE PRESENTE
ANTES DE MORRER.
A PAIXÃO É BESTA.
A PAIXÃO É BESTA E CAI NO UM SETE UM.
A PAIXÃO NÃO CONSEGUE PEGAR UM BONDE SOZINHA,
NECESSITA SEMPRE DE ALGUÉM PRA LHE CHUTAR OS PÉS.
MAS A PAIXÃO AMARRA UM BODE.
COMO OS LOBOS, ELA ANDA EM CÍRCULOS,
SÓ QUE NUNCA EM ALCATÉIA.
A PAIXÃO É FEIA QUANDO QUER ESTRANGULAR
A SI PRÓPRIA, BEM SABENDO QUE LHE FALTAM
MÃOS POTENTES, POR ISSO SE DESEMBELEZA,
FAZENDO CARETAS E ESGARES COMO QUEM ESTÁ NA
FORCA COM OS PÉS, POR POUCO, TOCANDO O CHÃO.
A PAIXÃO CONSTRÓI SONHOS.
TALVEZ ESSE SEJA O GRANDE BEM DA PAIXÃO;
VIVER DELES E NÃO DEIXAR O BARCO VIRAR
QUANDO O HORRICANE PARTE PARA CIMA DA BARCAÇA.
ELA NÃO É SIMPLES OLHAR DE LESMA, MAS UMA RISADA
DE HIENA NO MEIO DO ALMOÇO FARTO DOS HOMENS
DE CORAÇÕES MAUS. A PAIXÃO É UMA DROGA.
A PAIXÃO É UMA LOUCURA.
A PAIXÃO É UM TONEL DE ÁLCOOL 96 GRAUS.
POR ISSO EU ME ENCONTRO BÊBADO, DROGADO E
LOUCAMENTE APAIXONADO...
. tantas palavras - correio...
. além do céu de brasília -...
. cidade
. cabeça
. A PAIXÃO